Evolution

Random. | via Facebook

 

Hoje na volta do meu trabalho, estava eu tranquilamente lendo meu livro no ônibus como de costume, quando um senhor alegando ser cego me pediu esmola. Isso também não é nada fora do normal, encontrar pessoas com deficiências físicas pedindo dinheiro. O anormal foi a minha reação.

Aquele senhor sujo, cheirando a bebida, cego, me pedindo dinheiro cortou meu coração. Não dei o dinheiro, eu realmente não tinha. Ele sentou ao meu lado, me pedindo licença e começou a falar coisas sem nexo. Minha primeira reação foi ignorar e continuar minha leitura. Mas falhei miseravelmente. Meu coração está mais mole do que de costume.

Tentei acompanhar o raciocínio de Daniel. Sim, ele é um ser humano e tem nome. Ele me dizia que ninguém o amava. Que a esposa o deixou falando que amava outro homem. Que não era um homem feliz e que tinha tudo e agora, de repente, não tem nada. E me disse “acho que eu vou chorar”. A única coisa que eu consegui responder foi “não chora, não”. E aí, com um sobressalto ele percebeu que eu o estava escutando, que ele realmente existia.

Perguntou meu nome e eu perguntei o dele. Todos me olhavam no ônibus e a minha vontade era mandar todos à merda. Ele disse que eu tinha voz de italiana [eba!] e me ensinou regras de etiquetas. Não consegui segurar o riso. E a pena.

 

Me despedi dele e segui meu caminho. Não consigo entender como nós seres humanos ainda somos animais tão primitivos. Temos que sempre perder o que temos para entender que aquilo que tínhamos era exatamente o que precisávamos e o que queríamos. E quando perdemos, corremos ansiosamente atrás daquilo que não existe mais. E me pergunto, até quando será assim?